A direita, representante do Agronegócio, se levanta das trevas contra a publicação da portaria que atualiza os Índices de Produtividade. A direita, representante do setor empresarial, também se levanta em campanha aberta contra a Redução da Jornada de Trabalho.
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Jornada de Trabalho são lutas de todos nós
A Atualização dos índices de produtividade é tão importante para os trabalhadores camponeses que lutam pela reforma agrária, quanto a redução da jornada de trabalho o é para os trabalhadores urbanos. Em função das inovações tecnológicas as empresas aumentaram a produtividade em 132%, e é por isto que os trabalhadores querem a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais. Para trabalhar menos, ter tempo livre, para descansar, para estudar, para o lazer, embora os representantes dos patrões não concordem com isto e queiram os trabalhadores o dia todo dentro. Em todo o Brasilas fábricas estão em pé de guerra.Patronal resiste para manter a exploração
Usando a desculpa de que as empresas vão quebrar e que vai aumentar o desemprego, um dos representantes da patronal, o Deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP) em entrevista para a rádio CBN na Câmara dos Deputados, disparou: “Se você reduzir a carga horária, o que vai fazer o trabalhador? Eles [os defensores da mudança na lei] dizem: vai para casa para ter lazer. Eu digo: vai para o boteco, beber álcool, vai para o jogo. Não vai para casa. Então, você veja bem, aí é que tá o mal: ele gastar o tempo onde ele quiser, se nós podemos deixá-lo produzindo para a sociedade brasileira.” (agosto de 2009). Isto mostra a visão que o setor patronal tem dos trabalhadores brasileiros: isto é, para eles um bando de alcoólatras. O fato é que a redução da jornada poderia gerar dois milhões e quinhentos novos postos de trabalho. Isto representaria um aumento na folha de pagamentos das empresas em apenas 2%. Como vemos os capitalistas não admitem diminuir os lucros de forma alguma. A última redução da jornada foi em 1988, de 48 para 44:horas semanais.A Bancada ruralista se articula para manter os latifúndios improdutivos
Com o anuncio tardio, após sete anos de governo, Lula prometeu editar uma medida provisória atualizando os Índices de Produtividade, que é uma bandeira de luta histórica dos movimentos camponeses. Para aumentar a obtenção de terras para a reforma agrária, em audiência com o MST, Lula, para fazer media acenando para 2010 e buscando comprometer o MST e os demais movimentos, disse que criaria uma portaria para alteração dos índices de produtividade. Isto foi o suficiente para que as elites e Ruralistas personificados nas figuras da Senadora Kátia Abreu (DEM-TO), presidente da Confederação Nacional da Agricultura e do deputado federal Ronaldo Caiado (DEM-GO), líderes das Bancadas Ruralistas no senado e no congresso (que incluem partidos da oposição de direita e da base de apoio do governo), enquadrassem o Ministro da Agricultura Reinhold Stephanes, que declarou abertamente ser contra a portaria e que não a assinaria e trabalharia para convencer o governo do mesmo. Após as declarações foi repreendido pelo governo. O mínimo que o Lula deveria ter feito era tê-lo demitido.A direita reacionária logo tratou de articular para que a imprensa burguesa entrasse em cena. Como é o caso da revista Veja que publicou edição especial atacando o MST com noticias requentadas. A TV Bandeirantes ficou por uma semana fazendo editoriais em todos os telejornais. E continuam a campanha para criminalizar os movimentos sociais. A morte do militante do MST Elton Brum no Rio Grande do Sul, em uma simples desocupação onde famílias já estavam saindo pacificamente, é uma demonstração da ação combinada de repressão e criminalização dos movimentos sociais, com objetivo de desmoralizar os movimentos de luta pela terra com a conivência do Governo Lula, que só acena mas não toma mediadas efetivas em prol da reforma agrária,. nem para responsabilizar os assassinos e mandantes dos crimes contra os trabalhadores camponeses.Os índices de produtividade são os instrumentos legais que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), utiliza para fazer aferição do grau de utilidade da terra (GUT=80%) e do grau de eficiência exploração (GEE= 100%) das terras nas vistorias agronômicas. Estas vistorias são realizadas pelos peritos federais da mesma forma como os fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego fazem vistorias nas fábrica para verificar se ela estão cumprido a legislação trabalhista, condições de higiene, alimentação, horário, segurança, etc. No caso de uma empresa, quando constatado que a mesma está descumprindo a legislação é aplicada multa e fecha-se a seção temporariamente, até que se corrija a irregularidade.Nas fazendas após a vistoria, constatando-se que a mesma não está cumprindo a sua função social através da produção, a punição é a desapropriação com justa indenização, com pagamento das benfeitorias à vista e a terra nua em até 20 anos em títulos da dívida agrária. Isto está previsto na Constituição Federal, nos artigos 185 e 186 que regulamentam a questão agrícola e agrária, e o direito à propriedade. Mas também determinam que toda a propriedade deve cumprir função social, utilizando a terra de forma racional, mantendo sua produtividade, respeitando as legislações trabalhista e ambiental.A última vez que os índices foram atualizados foi no ano de 1975. Neste período de mais de trinta anos ocorreu uma revolução científica e tecnológica no campo, e o próprio agronegócio não existia como é hoje. O crescimento da produtividade média por ano foi de 3,68% de 1975 à 2000, e de 2000 à 2006 o crescimento foi ainda mais elevado: 4,98% segundo o próprio MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). O artigo 11 da Lei Agrária (8.629 de fevereiro de 1993), determina que os índices devem ser ajustados periodicamente, de modo a acompanhar o progresso científico e tecnológico da agricultura e o desenvolvimento regional.Os ruralistas afirmam que 400 mil propriedades vão ser atingidas pelos novos índices, o que inviabilizaria tolamente a produção agrícola. Isso não é verdade. Embora estas 400 mil propriedades representem 42,6 % das terras agricultáveis, representam apenas 10% das propriedades, segundo dados do Incra. O órgão tem cadastrados 4.238.447 de imóveis, e destes 3.838.000 (90% do total) não serão atingidos pelos dos novos índices. Na verdade o que querem os ruralistas é manter os latifúndios improdutivos e a concentração das terras no Brasil. Tentam criar uma cortina de fumaça para confundir a população com objetivo de colocar a opinião publica contra a mediada provisória.Lula precisa cumprir compromisso assumidoA medida é de caráter interministerial: Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Agricultura (MAPA), Ministério do Meio Ambiente. e precisa ser submetida ao Conselho Nacional de Política Agrária (CNPA) que está desativado desde o governo FHC, e que só pode ser convocado pelo presidente da república. O CNPA é composto pelos referidos ministérios, onde também fazem parte representantes das entidades patronais dos agricultores e dos trabalhadores, a CONTAG, tidos como “a Sociedade Civil”. O formato é um pouco parecido com o conselho curador do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador).Os novos índices terão como base cálculos do período entre 1996 e 2007 referenciados em estudos da UNICAMP, IBGE e EMBRAPA. Será levado em conta a similaridade de cultura e produtividade por região do país, estudos agronômicos que quantificam a produção média por hectare e a lotação de unidade animal por hectare. É provável que com atualização dos índices, a obtenção de terras aumentaria em torno de 25%. Muitas das propriedades consideradas hoje como produtivas, com os novos índices, teriam comprovadas a sua improdutividade. Atualmente a cada dez fazendas vistoriadas pelo Incra só uma é considerada improdutiva, sendo que os fazendeiros recorrem na justiça até a ultima instância do judiciário. Atualmente existem cerca de 260 processos de desapropriação travados na justiça.Agora a senadora Kátia Abreu recolhe assinaturas no senado para abrir novamente uma CPI para investigar o MST, com a velha alegação que o MST usa dinheiro publico através dos convênios para fazer ocupação em propriedades privadas e em prédios públicos. Como se o senado tivesse moral para investigar alguém, aquele antro de corrupção. Podemos cobrar do MST uma posição firme, que com relação ao governo Lula tem sido vacilante, que bate e assopra e que com isto não tem ajudado acumular forças junto à população contra o Governo.Kátia Abreu e o setor ruralista precisam explicar a dependência do setor do agronegócio em relação ao estado e ao sistema financeiro; e a sua baixa produtividade. O governo disponibilizou 97 bilhões de reais em crédito para que o setor obtenha R$120 bilhões de reais no final da safra. Os ruralistas são em torno de 3 milhões de famílias, e 1% deles detem 46% das terras agricultáveis. O conjunto dos latifundiários ocupam 200 milhões de hectáres para criar 240 milhões de cabeças de boi. Ou seja 1,2 por hectare, criados de forma extensiva, causando enorme impacto ambiental.Na América Latina só o Brasil e Argentina não fizeram Reforma Agrária
O modelo de produção agrícola predominante é totalmente voltado para a exportação sem valor agregado, não há. nem uma preocupação com o mercado interno e transformaram o Brasil no maior consumidor de agrotóxico do mundo. A CNA (Confederação Nacional da Agricultura) presidida por Kátia Abreu não diz quantos milhões ela pegou do governo em recursos do FAT. Com pretexto de fazer capacitação dos agricultores, utilizam o SENAR (Serviço Nacional de Aprendizado Rural), ligado ao “Sistema S”, através dos Sindicatos Ruralistas, para ministrar cursos aos agricultores, inclusive nos assentamentos de reforma agrária, para disputar ideologicamente os assentados com os movimentos, onde os cursos são só para justifica o dinheiros recebido.A agricultura camponesa e familiar representa 20 milhões de e agricultores enquanto a patronal representa 3 milhões de famílias. As pequenas e medias propriedades de até 15 modulo fiscais representam 52,4% dos estabelecimentos rurais brasileiros. A agricultura familiar, mesmos com apoio insignificante por parte do governo, representa 10% do PIB Brasileiro e 1/3 do PIB agropecuário, além de ser responsável pela produção de 70 % de todo o alimento que abastece as mesas dos brasileiros, sendo responsável por 3/4 dos postos de trabalho no campo.A Reforma Agrária por si só não é uma bandeira revolucionaria. Os países capitalistas já fizeram com objetivo de desenvolver o capitalismo e dinamizar o mercado interno, realizar ocupação de territórios. Os militares tinham um lema, integrar para não entregar, e com isto distribuíram terras na Amazônia, com outro lema, terras para homens sem terras. Só que não era um programa de reforma agrária, e sim de distribuição de terras por uma questão estratégica de ocupação de territórios. A Reforma Agrária é uma política necessária para o desenvolvimento do país, por isto os movimentos que atuam no campo precisam avançar na unidade de ação e deve buscar a solidariedade dos trabalhadores urbanos em apoio a Reforma Agrária. Trabalhadores do campo e da cidade uni-vos!– Reforma Agrária sob o controle dos trabalhadores;– Por outro modelo de desenvolvimento para o campo, voltado para o mercado interno, com o objetivo de atingir a nossa soberania alimentar;– Atualização dos índices de produtividade já;– Delimitação do tamanho da propriedade em no máximo 15 módulos fiscais;– Por um sistema público nacional de assistência técnica e extensão rural;– Reestruturação do INCRA com concurso público para novos servidores;– Instalação de Varas Especiais Agrárias e Promotorias agrárias estaduais e federais;– Estatização dos cartórios e cadastro unificado dos imóveis rurais;– Rito sumário para julgamento dos processos agrários;– Transformar o PRONERA em política pública com uma lei específica;– Não à criminalização dos movimentos sociais;
* Zelito F. Silva é membro da Coordenação Nacional do Terra Livre pelo estado de Goiás. -
São Paulo: Ocupação Alagados do Pantanal (Vila Curuçá, Zona Leste)
A opção de uma ocupação menor (em número de pessoas) do que a tradicionalmente observada na movimentação de outras organizações sem teto reflete uma tentativa de fortalecimento dos laços comunitários das pessoas envolvidas nesse processo de luta. Por Passa Palavra
“Foi aí, então, que a gente decidiu ocupar esse terreno. Depois de mais de um mês debaixo d´água e sem saber para onde ir. O bolsa-aluguel eu não ia aceitar não! Moradia é direito, é ou não é?”
Com essas palavras, Edna – integrante da Ocupação Alagados do Pantanal do Movimento Popular Terra Livre na Vila Curuçá – expressa a vontade das mais de 100 famílias que estão respondendo, por meio da mobilização, ao descaso do poder público frente às suas reivindicações. Mas a história da luta dos moradores na Ocupação da Vila Curuçá não começou agora. Alguns fatos anteriores ajudam a entender os motivos dessa ação e as propostas de organização desse movimento.
Os meses de dezembro de 2009 e janeiro de 2010 ficaram marcados pelas fortes chuvas e enchentes que atingiram a cidade de São Paulo. Vários bairros, dentre eles o Jardim Pantanal (Zona Leste), sofreram as conseqüências desses alagamentos. Dezenas de pessoas perderam seus pertences, roupas e alimentos – e tiveram de conviver diariamente com as águas que invadiam suas casas, conforme Edna relata.
A população moradora do Jardim Pantanal alega que, na verdade, o governo do estado de São Paulo foi o principal responsável por esses alagamentos do bairro. Segundo os moradores, a enchente foi causada pelo fechamento intencional das comportas da barragem da Penha e a abertura das comportas da barragem do Alto Tietê. Os moradores ainda entendem que essa ação teve como opção política clara a intenção de impedir que a Marginal Tietê fosse tomada pelas águas durante esse período de fortes chuvas. Algumas reportagens publicadas pelos órgãos de imprensa, com declarações de técnicos do governo estadual, confirmam essa idéia.
O descaso do poder público, porém, não para por aí. Algumas lideranças comunitárias e movimentos populares também chamam a atenção para outro crime que estaria sendo cometido pelo governo do estado de São Paulo. Cabe lembrar que uma grande área da várzea do Rio Tietê será desapropriada para a construção do mega-projeto do Parque Linear Várzeas do Tietê – uma das políticas compensatórias a ser concretizada, devido ao alargamento das pistas expressas da Marginal Tietê. Todavia, até aqui, poucas alternativas habitacionais foram apresentadas para as mais de 5.000 famílias que vivem na região e estão sendo removidas – muitas delas estão nessa localidade há mais de 20 anos.
Na intenção de acelerar o processo de retirada das famílias para a construção deste Parque Linear, os moradores acusam que a enchente foi provocada para que eles abandonassem suas casas rapidamente, facilitando assim sua remoção. Essa denúncia é confirmada pela constante criminalização, por meio de cartilhas e materiais elaborados pelo próprio governo estadual, daqueles que habitam a região onde será construído o parque. Os moradores são considerados, nesses materiais, os principais responsáveis pela poluição das várzeas. Já os movimentos organizados na região contestam essa informação. Em primeiro lugar, os moradores do Jardim Pantanal sempre lutaram por melhorias nas condições de habitação e saneamento no local. Além disso, a Prefeitura e o governo do estado, ao mesmo tempo em que atuam incisivamente para a retirada dessas famílias, silenciam sobre a poluição e erosão causada pelas grandes empresas (Suzano-Report, Nitroquímica, Bauducco), que também ocupam as várzeas nessa região.
Desde então, os moradores estão se organizando para denunciar esses acontecimentos e violações do direito à moradia por parte do município e governo do estado. Já existiam, anteriormente, algumas movimentações no sentido de regularizar e fortalecer a comunidade que morava nas imediações do bairro – parte dessas ações foi coordenada pelo Movimento pela Urbanização e Legalização do Pantanal (MULP), que há dez anos atua no local. Diferentes lutas pela obtenção de água e energia elétrica, além da constituição de comissões de formação política e a realização de assembléias mensais, permitiram que o movimento fosse organizado com a participação intensa dos próprios moradores – e não apenas impulsionado por lideranças comunitárias.
No entanto, as reivindicações e a organização avançaram fortemente devido às ameaças de remoção e às recentes enchentes ocorridas no local. Várias passeatas, fechamento de grandes avenidas, além da realização, em 08 de fevereiro de 2010, de um ato público em frente à prefeitura da cidade – em que moradores exigiam uma solução emergencial para o problema das enchentes e um projeto habitacional efetivo para a população da região –, evidenciam a resistência dos moradores às ações do poder público. Na ocasião, a polícia reagiu a esse descontentamento, lançando gás pimenta na cara de alguns manifestantes.A Prefeitura de São Paulo, buscando uma solução rápida para a retirada das casas após esses alagamentos, ofereceu um auxílio-moradia (bolsa-aluguel) de R$ 300,00 por seis meses. Os moradores do Jardim Pantanal entendem, no entanto, que o valor é insuficiente para as famílias conseguirem um novo local para se instalarem. Além disso, alegam que, após o prazo estabelecido para o recebimento desse auxílio, não há qualquer garantia do poder público para continuidade desse benefício ou obtenção de moradias populares para os atingidos pelas enchentes.
O local escolhido para a ocupação Alagados do Pantanal, um grande terreno na Vila Curuçá (Zona Leste), é uma área decretada como de interesse social. O poder público, buscando uma resposta para acalmar os ânimos das famílias atingidas pelas enchentes, decretou que algumas áreas seriam destinadas para a construção de conjuntos habitacionais para os moradores das regiões afetadas pelas chuvas. Márcio, militante do Terra Livre, conta que a ocupação da Vila Curuçá tem como objetivo pressionar os governos municipal e estadual para que as casas comecem a ser construídas – já que quase seis meses se passaram (prazo, inclusive, do bolsa-aluguel) e, até aqui, nenhuma casa foi destinada aos moradores retirados do Jardim Pantanal.
Assim, a ocupação da Vila Curuçá por parte de algumas famílias que residiam no Jardim Pantanal ocorreu devido ao descaso do poder público e à falta de alternativas para aqueles que foram removidos de seus lares. Os moradores se organizaram, então, para lutar por seu direito à moradia. Uma das reivindicações do Movimento Terra Livre é que as famílias não irão aceitar que os conjuntos habitacionais, anunciados para serem destinados aos moradores removidos da região, sejam considerados a solução final para seus problemas. O movimento alega que os prédios a serem construídos pela Prefeitura e governo do estado serão vendidos às famílias – e não entregues em troca das casas derrubadas.
Alexandre, também integrante do Movimento Terra Livre, afirma que o processo anterior ao momento da ocupação foi construído coletivamente pelas famílias. Dessa forma, ele conta que, por meio de comissões organizadas no próprio bairro e vários debates de formação, a ação foi encaminhada como uma iniciativa de luta e pressão para denunciar a morosidade das instituições estatais e chamar a atenção para as reivindicações dos moradores.
A ocupação, até aqui, tem avançado em sua estruturação – consolidando sua organização interna por meio de comissões que executam as principais tarefas diárias. Além disso, as decisões relativas aos seus rumos políticos são tomadas em assembléias periódicas. A opção de uma ocupação menor (em número de pessoas) do que a tradicionalmente observada na movimentação de outras organizações sem teto reflete uma tentativa de fortalecimento dos laços comunitários das pessoas envolvidas nesse processo de luta. Algumas atividades, como a ciranda para as crianças e a feira cultural dos próprios moradores, que ocorrem todos os domingos, além da exibição de vídeos de lutas sociais na própria ocupação, também permitem o avanço na organização das famílias.A população do entorno da ocupação Alagados do Pantanal tem, até esse momento, sido francamente simpática à mobilização das famílias. No mesmo dia da ocupação, já pela parte da manhã, os militantes elaboraram um material específico e percorreram as casas do bairro Vila Curuçá para relatar sobre o que havia ocorrido e quais as lutas e reivindicações dos ocupantes. Algumas pessoas, além de apoiarem a iniciativa, também expressaram solidariedade e ajuda às famílias que estão participando desta luta.
A polícia tem marcado presença desde a primeira semana, com duas viaturas constantemente colocadas em frente à ocupação. Um incidente marcou a atuação dos policiais logo nos primeiros dias da ocupação: durante a madrugada do dia 04 de maio, a Polícia Militar cortou a luz do acampamento, chegando até mesmo a invadi-lo em determinado momento. Pela manhã do mesmo dia, os moradores foram hostilizados por alguns policiais e os carros responsáveis pelo transporte dos donativos às famílias ficaram impedidos de entrar e sair da ocupação. Por fim, devido às denúncias do próprio Terra Livre e à solidariedade de várias organizações sociais, essas restrições foram contornadas.
Vários movimentos populares, estudantes e parlamentares têm prestado ajuda material e solidariedade à luta dos moradores da Ocupação Alagados do Pantanal. Dentre os vários apoios, a moção de apoio internacional do Movimento Teresa Rodriguez (MTR) – “piquetero”, de trabalhadores desempregados da cidade de Córdoba (Argentina) – se destaca, já que esse movimento popular argentino também tem como um de seus métodos de luta a organização de moradores para a ocupação de terrenos urbanos. E, assim como o Terra Livre, o MTR também pretende pressionar as instituições estatais para a concretização do direito à moradia.
A negociação, até esse momento, tem se dado no âmbito das Subprefeituras correspondentes à região do Pantanal e da Vila Curuçá (São Miguel e Itaim Paulista, respectivamente). No entanto, os avanços obtidos nas negociações ainda são insuficientes para as reivindicações das famílias por moradia popular. Uma das principais idéias do Terra Livre é que as futuras habitações sejam construídas e organizadas pelos próprios moradores – não sendo, portanto, prisioneiras dos modelos de habitação social oferecidos pela Prefeitura e governo do estado. Há pouco tempo, o proprietário do terreno entrou com uma liminar de reintegração de posse. Mas, por enquanto, as famílias acreditam que ainda exista a possibilidade de negociação e atendimento das reivindicações.A ocupação Alagados do Pantanal evidencia o que está em jogo no processo de reordenação urbana de São Paulo. A cidade é, para os setores capitalistas, uma fonte de lucro. A resistência popular, no entanto, também permite vislumbrar que o espaço urbano pode ser uma forma de luta e de existência mais justa.
Para maiores informações sobre a Ocupação Alagados do Pantanal: http://www.terralivre.org/ e http://blogterralivre.wordpress.com/
Ilustrações: Algumas fotos utilizadas no artigo são de autoria de Sérgio K.
